Quando a própria instituição criada para proteger a população decide perseguir e atropelar um jovem indefeso, resta apenas horror e revolta. Ezequiel Santos, de 19 anos, não sobreviveu não apenas às sequelas da brutal colisão provocada por uma viatura da Guarda Municipal de Araguaína, mas também ao descaso e à indiferença de quem deveria zelar pela vida dos cidadãos.
Em 12 de março de 2023, uma decisão do Superior Tribunal de Justiça foi flagrantemente ignorada: guardas municipais não têm competência para realizar perseguições policiais. Ainda assim, a viatura avançou sobre a motocicleta de Ezequiel, destruindo sua coluna e lançando-o na espiral de sofrimento que culminou em tetraplegia. Enquanto ele se debatía entre a luta pela mobilidade e a dignidade perdida, a corporação permanecia em silêncio — testemunha muda de um crime que se consumava dia após dia.
Na última sexta-feira, 23 de maio de 2025, a virose que ele travava contra o próprio organismo venceu essa batalha. Não foi apenas um vírus que ceifou sua vida, mas o acúmulo de negligência institucional, de promessas não cumpridas e de processos que se arrastam para nunca punir os culpados. Ezequiel deixa claro que, em Araguaína, a impunidade possui farda e ostenta um distintivo.
Enquanto o cadáver de um jovem anônimo — mas cuja história viralizou por toda a cidade — é enterrado, a Guarda Municipal continua celebrando estatísticas de “ordem pública”. Que esta tragédia sirva, ao menos, para revelar a face assassina de quem se julga acima da lei. Porque permitir que a “segurança” se torne instrumento de terror não é só crime: é covardia.
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