A crise entre os professores da rede pública municipal e a Prefeitura de Araguaína, no Tocantins, ganhou um novo capítulo nesta semana após uma contundente manifestação de uma servidora efetiva da educação. Em resposta a um vídeo divulgado pelo prefeito Wagner Rodrigues, onde ele afirma estar aberto ao diálogo e destaca investimentos na área, a professora decidiu expor, de forma direta e didática, o que considera ser uma tentativa de desinformar a população.
“Se o salário do professor de Araguaína é o terceiro melhor do país, por que será que os professores efetivos estão em movimento de greve?”, questiona a servidora no início de sua fala. A pergunta retórica dá o tom do restante do pronunciamento, em que ela desmente a declaração do prefeito sobre os altos salários e denuncia o descumprimento da lei do Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR), legislação que rege a carreira dos profissionais da educação.
Segundo a professora, todos os professores efetivos que estão em greve apresentaram, ainda em março de 2024, a documentação necessária para sua primeira progressão salarial. No entanto, mesmo após um ano, a publicação e o pagamento não foram efetivados. Ela lembra que essas progressões são garantidas por lei e custeadas por verba federal do FUNDEB, exclusiva para esse fim. “É importante lembrar que o recurso utilizado para o pagamento de salários e dessas progressões não saem dos cofres públicos de Araguaína”, esclarece.
A educadora também confronta a ameaça do prefeito de substituir os grevistas por novos contratados. “Se a principal queixa é falta de recursos para o pagamento das nossas progressões, como pode haver novas contratações?”, indaga. Para ela, essa postura revela a falta de diálogo real entre a gestão municipal e os servidores da educação, além de uma tentativa de enfraquecer o movimento legítimo da categoria.
Outro ponto que gerou indignação foi a afirmação de que Araguaína paga um dos melhores salários do país. De acordo com a servidora, essa afirmação distorce a realidade: “Nós recebemos o piso salarial estabelecido pelo MEC. É um valor considerado básico.” Ela explica que os profissionais com salários mais altos são aqueles que atuam há décadas na rede e já passaram por diversas progressões. Já os concursados mais recentes, como os do certame de 2021, sequer tiveram a primeira valorização reconhecida.
A professora lembra ainda que os mesmos educadores que hoje são ignorados pela gestão foram os responsáveis por levar Araguaína a conquistar o selo de ouro do programa nacional Criança Alfabetizada, em reconhecimento do Ministério da Educação (MEC). “E sobre a pergunta do início do vídeo? Não, nós não recebemos o terceiro melhor salário do país”, reforça.
Ao final de sua fala, a servidora faz um apelo à população araguainense, especialmente aos pais e responsáveis pelas crianças da rede pública: “Infraestrutura por si só não pode garantir uma educação de qualidade. Mas um professor que entra na sala de aula contente, satisfeito e valorizado, esse sim, pode contribuir com a educação e ainda garante para a cidade quantos selos de ouro aparecerem.”
O embate revela o desgaste entre a categoria e a atual gestão municipal, levantando questões importantes sobre valorização profissional, transparência na gestão dos recursos públicos e o futuro da educação em Araguaína.
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